quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Vai moço, vai.

Venha cá moço, e me faz um cafuné. Me deixa deitar no seu colo e te contar meus medos. Me deixa abrir esse coração ferido, e me faz acreditar que não tem problema ficar assustada.  Não moço, não tente me consolar, nem queira me fazer esquecer essa dor. Só me deixe encostar no seu ombro e chorar. Me deixa lamentar meus problemas, minhas ansiedades. Me responda com um abraço, um olhar, uma frase curta, qualquer coisa. Venha cá moço, e me deixe aninhada no seu peito. Me deixa agir como essas crianças manhosas que se escondem quando tem medo.
E então me faz um favor: grita pro mundo o nosso fim.
Grita que as coisas não estavam bem, e grita suas dores junto com as minhas. Grita a saudade dos nossos momentos bons, grita o incomodo de tudo que foi ruim. Grita tudo. Se desafoga dessas mágoas, dessas esperanças. Não tente me interpretar, garanto que essas linhas todas estão cheias da mais sinceras emoções. Apenas leia, e guarde pra você. E se puder, guarde em você tudo aquilo que você sentiu. Eu te amei, com tudo que eu pude e sei que você me amou também. Não precisa fingir que isso tudo foi mentira. Mas grita, grita tudo aquilo que foi ruim. Depois, enterra de vez essa história que não deu certo. 
Caramba, você sabe que eu sou das mais sinceras possíveis, e também sabe que eu nunca, nunquinha mesmo, gostei de colocar ponto final nas coisas. Mas para que haja alguma chance de eu e você sermos nós outra vez, o passado - e tudo o que se passou nele - tem que ser superado, tem que ser curado, tem que ficar pra trás.
Entenda que eu não estou aqui mandando você se jogar nos braços de uma garota qualquer, mas, se esse for o único jeito pra você superar, pra você se encontrar, pra você seguir em frente: vai em paz moço, vá em paz.

domingo, 25 de novembro de 2012

236.

Hoje escrevi mais um texto sobre você. Não é nenhuma novidade, eu sei, mas é que depois de escrever, e ler e reler, não tive coragem para publicar.
Na verdade, o que acontece é que eu cansei de me expor em relação a você. Passa tanta coisa na minha cabeça, e no meu coração, quando estou pensando em você que escrever é o único meio de tentar tornar as coisas claras. Mas publicar isso, para todo mundo ver, menos você, me parece agora loucura demais.
Sei que já escrevi duzentos e trinta e cinco textos sobre o que eu sinto, sobre o quanto eu lamento não termos dado certo, sobre o quanto eu sofri enquanto ainda tinha esperanças.
Mas as coisas estão diferentes agora, estou vivendo numa cidade nova, e por mais que eu deseje não vou encontrar você ao acaso no supermercado. Também tenho um namorado agora, te contei não foi? Ele me faz incrivelmente feliz, ainda que tenhamos problemas - coisas do meu mau humor, da minha correria de sempre, ainda lembra? Comecei usar lentes de contato, mas não consegui largar os óculos vermelhos totalmente. Emagreci dois quilos. Já alisei meus cabelos, mas agora estão enrolados outra vez. Estou indo muito bem na universidade, já fiz vários outros amigos, e mantenho aqueles poucos que você já conhecia.
E sem querer, acabo por escrever mais um texto em que você aparece.
Como é que pode esse tipo de coisa continuar acontecendo? Eu continuar me importando com o que você sabe, com o que você pensa, com que você faz. Não, it's not a big deal. Eu já te disse, esse meu excesso de sentimentos por você não significam muita coisa. Nós não somos uma opção. E nem se atreva a duvidar disso. Mas passa tanta coisa dentro de mim, quando seu nome, ou seu rosto aparecem, que eu fico até constrangida. Uma vez eu juntei tudo o que eu já tinha escrito sobre você, e te forcei a ler, mas agora até isso não parece mais ser aceitável.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Queda livre

Hoje o dia amanheceu assim, sem graça, desse jeito que me faz parar e pensar. E eu pensei. Pensei como as coisas tem parecido sempre turbulentas. Sabe? Daquele jeito que eu fico, durmo, acordo e durmo outra vez,  e o cansaço não some.
Hoje o dia se estendeu como uma descida íngreme: eu e você insatisfeitos com a realidade, eu e você querendo uma solução pros nossos problemas, eu e você discutindo num silêncio absurdamente agressivo.
Sabe que em dias assim, sempre em dias assim, eu paro e penso. E eu pensei. Pensei que você não faz com que eu me sinta bonita de moletom, e me faz sentir coisas ruins por ser assim brava como sou. Pensei mais uma vez como é dificil querer fazer algo dar certo simplesmente porque há amor. Afinal não dá  nem pra garantir que haja.
Fica dificil querer estar com você, especialmente quando eu estou querendo tanto a sua companhia e te sinto se dando a tantas outras companhias, entende? Você se enche pra dizer que precisa de mais tempo comigo, e eu não consigo ver verdade nisso. Só vejo pirraças, desafios e feridas.
Por favor, não venha repetir um eu-te-amo como se isso resolvesse tudo. Talvez, num mundo de conto de fadas isso resolva, mas no meu mundo, nesse que você cada vez mais evita fazer parte, um eu-te-amo não muda muito. Na verdade, não muda nada quando é dito assim pra tentar estancar a ferida aberta. Não muda nada quando significa que todos os meus sentimentos ruins deveriam sumir simplesmente porque você está dizendo que me ama.
Posso ver você dizendo: tempestade em copo d'água, não fiz nada de errado e você também faz coisas assim...
Mas as coisas nunca foram e nunca serão equilibradas entre nós. Nunca. Eu nunca vou lidar com as coisas como você e nunca o meu silêncio vai doer como o seu, e nunca o seu grito como o meu. Seus amigos, seus filmes, suas músicas e seus jogos: nunca foram e nunca serão igualmente queridos como os meus. E pára de tentar comparar seus hábitos de dois meses, aos meus de seis anos. Pára de tentar fazer o que eu faço pra que eu veja como você se sente. Eu sinto mais, e eu sinto muito.
Depois da descarga de adrelina você volta pra sua rotina e vive muito bem. Eu, depois da adrelina, vivo e revivo infinitas vezes, e sofro e choro e fico vermelha de tanta raiva. Eu sinto mais, e eu sinto muito.
Hoje o dia amanheceu, assim sem graça, e eu poderia ter desejado deitar no seu colo e descançar. Eu poderia.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Absurda distração

Tenho pensado em você. Sei que mais ninguém entende porque eu não exclui você das minhas memórias. Depois de tanto tempo e depois de tanta dor parece que seria natural não pensar nunca mais em você. Mas isso nunca me pareceu certo. E hoje, mais do que nos outros dias, estou acostumada a pensar em você. Tente entender, me escondo nas lembranças daquela época, e nos diálogos que poderiam acontecer se nos encontrássemos por acaso. Eu me mostrando linda e travessa e você provando sua maturidade e seus hábitos antigos. Com uma convicção absurda, eu sempre soube que por mais que eu sofresse por você todas as coisas iam ficar bem. E hoje, mais do que nos outros dias, preciso ter essa convicção absurda. É óbvio pra mim, mas talvez não seja pra mais ninguém: quero que as coisas voltem a ser tranquilas como eram antes, quero que meus problemas sejam simples como um amor mal resolvido, mal correspondido, mal realizado. Parece ingratidão com tudo o que eu tenho, desejar sofrer desse mal, mas a vida de gente grande tem fantasmas e monstros muito maiores do que esperar você responder minhas mensagens. Tenho sentido falta desse sofrimento bobo, que por mais doloroso que seja, vai ser sempre considerado bobo. Sinto falta de pensar no amor como uma história dessas inabaláveis, onde tudo é lindo e a poesia surge sutil entre os diálogos, sinto falta do romantismo dos meus textos teus, e de como sofrer por amor me parece mais bonito do que qualquer outro sentimento. 
Entenda que eu preciso fugir um pouco dessa vida que eu tenho agora, dos problemas tão impossíveis e de toda dor que estou sentindo, e nada me parece tão certeiro como mergulhar naquela dor que eu já senti e sei que passa, entende? Eu conheço a dor de não ser amada de volta, sei como é que funciona, e, mais do que tudo, sei que passa. E a única coisa que eu preciso agora é saber. Sei também que você nunca se importou de ser usado, e que não vai se ofender se eu usar as suas lembranças pra esquecer um pouquinho a realidade. Entenda também, que mesmo mergulhada nas suas lembranças, não sou ingênua de querer você aqui comigo, você não é companhia dessas de ser ter sempre, de ser sincero. Se eu te encontrasse hoje, assim por acaso e depois de tanto tempo, eu fingiria ser linda e travessa pra te impressionar, mas eu não conseguiria sustentar isso por mais de dez minutos: hoje sou alguém bem menos impressionante. Vira e mexe eu saio de casa mal arrumada, com uma expressão de cansaço contínuo, e não me espanta o fato de que as vezes suspiro aliviada por não ter que fingir estar bem. Como eu disse, as coisas estão meio turbulentas agora. Mas me perder naquelas lembranças sobre você e sobre como eu era quando te amava, servem perfeitamente de distração.




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Despedida

Já faz muito tempo desde o dia em que nos vimos pela primeira vez. Como nessas histórias de filme, foi algo simples e casual mas que sinceramente me marcou demais. Foram os vinte dias mais inesperadamente marcantes que eu já tive. Mas não quero que isso pareça uma pretensão de atrapalhar sua vida, nem mesmo posso dizer que quero voltar no tempo pra ter esses olhos castanhos me olhando tão firmemente de novo.
Quero apenas te dizer que me orgulho de quem você se tornou. Te acompanhei de longe nesses setes anos que se passaram, e posso dizer que você é um homem forte, maduro, consciente, responsável e que continua tão tímido quanto era há anos atrás.
Não tenho a pretensão de achar que você ainda lembra dos meus olhos castanhos te olhando firmemente. Ainda assim, acho justo me desculpar pela minha imaturidade.  Quando te conheci, ouvi de um amigo que Não adianta ser a coisa certa, precisa ser também no momento certo, e no nosso caso, não houve um momento certo. E é claro que, não haver um momento certo foi a coisa mais certa que poderia acontecer.
Não sei se preciso te dizer, mas você nunca me decepcionou. Nunca mesmo. Eu só lamento ter sido tão nova e não ter ninguém pra me impedir de te decepcionar. Lamento de verdade. Lamento minhas birras, minha ausência, minha falta de sabedoria pra ver quem eram as pessoas que me faziam companhia e mais que tudo, lamento minha covardia pra não dizer tudo isso antes pra você.
Não se assuste, te escrevo agora apenas pra te desejar as melhores coisas nessa vida. As melhores risadas, as melhores noites, as melhores companhias, o melhor amor, a melhor saúde, as melhores bençãos. Não consigo pensar em nenhuma outra pessoa pra qual eu desejei tantas melhores coisas assim. 
Por fim, quero te contar que toda vez que você passava por mim, eu orava baixinho pra que Deus te acompanhasse e te guiasse pra sua felicidade, e hoje fiquei com uma sensação de dever cumprido: sua felicidade está ai, estampada no seu rosto e, a partir de agora, não preciso mais sussurrar por você.

Porque algumas pessoas ficam guardadas pra sempre.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Bailarina, saudade de chumbo.

O dia estava daquele jeito chuvoso, como inúmeras vezes ela já havia vivido. Ela, agora crescida, evitava pensar em tudo aquilo que a menininha havia passado, mas não era algo que ela pudesse controlar. Nesses dias de chuva, de solidão, de ausências inúmeras, ela acaba por se render a saudade, pra sentada num canto qualquer, relembrar. Da doce sensação de deixar seu corpo fluir através de uma música, do desafio de ter passos bem marcados, da adrenalina as vesperas de uma apresentação. Tantas foram as vezes que ela reclamou dessa rotina, e agora, como que numa dessas armadilhas do tempo, estava ali sentindo falta daquilo. Ela que tantas vezes recusou uma xícara de café, se via ali desejando um pouco daquele pó forte, capaz de espantar essas lembranças de menininha. Lembrança. Do sabor amargo de um desafeto, e de como incomoda ver o outro sendo feliz com algo de devia ser nosso, e do tanto que esses desconfortos parecem bobos agora. A menininha já fora muito ciumenta, não é? Coisa boba de quem não sabe bem o que quer e sofre por ver que tem gente que sabe. Nesses dias de chuva, ela acaba sempre por tentar compreender todas as dores daquela menininha que ela já havia sido. Os inúmeros amores, as decepções, as ilusões, os amigos, os hábitos, os problemas que eram tão grandes, e que num passe de mágica - ou de tempo - se tornaram apenas cicatriz num coração que, por ser teimoso, insistia em encontrar um jeito de boicotar a calmaria da rotina de gente grande, pra se render a nostalgia das coisas de pequena. Bobagem. Como o doce enjoativo da vitrine da padaria, e de como simples metáforas podem marcar tanto uma menininha. Dos inúmeros suspiros, tristezas, e de toda a satisfação de saber que aquela pequena viveu, e viveu muitas coisas boas. Ela, como boa gente grande, não tinha pretensão de voltar ao passado pra viver tudo aquilo de novo, ainda mais tudo aquilo que foi dor, e hoje, só hoje, é lembrança. Mas nesses dias de chuva, é inevitável relembrar.

(Num desafio blogueiro simplesmente encantador.)

sábado, 21 de abril de 2012

Um moletom surrado e um clichê.

Gosto dessa sensação que me invade vez ou outra, de que todo o meu passado valeu a pena. E não se confunda, isso não é saudade, não é tristeza é só aquela coisa de relembrar e sorrir porque de alguma forma tudo o que eu passei fez com que eu pudesse chegar aqui. Sentada nesse sofá desconfortável, vestindo um moletom surrado e me enchendo de refrigerante estupidamente gelado. Essa sou nos meus melhores dias, ou piores não sei. Não estou dizendo que este é meu conceito de lugar ideal, mas é um bom lugar pra se estar. De repente, em meio a tumultos e preocupações, ficar aqui com o computador esquentando meu colo, enquanto o refrigerante congela minha garganta, assistindo um romance clichê e lendo meus blogs preferidos: descanso merecido, me arrisco a dizer. Me perco nas revisões gramaticais e lembranças emocionais, e tudo o que eu posso fazer é sorrir, por de fato compreender que vivi momentos memoráveis, e conheci pessoas inesquecíveis. Não se confunda, falo do amor que as pessoas podem despertar na gente, ainda que sem querer, ainda que por querer. As intenções das pessoas não mudam as marcas que elas deixam em nós. Não se iluda, eu não penso isso todo o tempo, essa sensação de que tudo foi maravilhoso só me invade vez ou outra, e então eu paro tudo o que estou fazendo e deixo me levar, porque não há nada mais reconfortante do que saber que tudo valeu a pena.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Vem moço, outra vez.

Sabe moço, queria olhar dentro de ti uma vez e compreender como é que você me enxerga. Queria saber que opiniões a respeito de mim você carrega nesse peito estufado. Queria saber que sorriso meu você guarda como favorito e se pensa em mim mesmo quando estou distante. Sabe moço, fico curiosa de saber se teu jeito é mesmo esse ou se você fica diferente perto de mim, entende? Queria conhecer o você além de mim, além dessas minhas manias e distrações. Queria saber quais são seus sonhos mais genuínos e se os meus combinam com eles. 
Sorria meu querido, esse meu querer é bom. É sinal de que você me intriga, me interessa, ainda me seduz. Moço, vem cá, bem perto, e sussura em meu ouvido confidências, me deixa sentir teu perfume, senta comigo no sofá e tenta me impressionar com suas idéias. Deixa cair no chão suas defesas, e não se incomode com meu sorriso satisfeito. Me abraça e faz com que eu queira ficar ali pra sempre. E por favor, queira ficar ali também.
Não venha me dizer se você é bonzinho, tímido ou canalha, me deixa descobrir tudo isso em você. Me deixa tirar minhas dúvidas, me deixa moço, ficar bem perto e olhar dentro de você. Me deixa te observar pra sempre, e fica comigo sempre que eu precisar.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Desespero

O desespero, o medo, uma assombração. Como num passe de mágica a calma rotina muda e poe um fim naquela tristeza sem motivos. Os motivos estão ali, bem na frente. O peito dói, o corpo treme e não há nada que coloque o mundo de volta no lugar de antes. Medo. Eu já disse que tenho medo? Medo do que se segue, do que se passou, do que eu possa vir a fazer. Enquanto me despero aqui, num canto, ninguém é capaz de me salvar, nem o amor, nem o silêncio. As lágrimas correm desperadamente, como se até elas quisessem fugir daqui. O sorriso desapareceu, e aquele ar leve de menina travessa deixou um bilhete de que nao iria mais voltar. Compreende a minha dor? Compreende o estado louco de espirito que me encontro, querendo fugir e desaparecer e deixar todas as consequencias e problemas nessa vidinha que eu nem sei se me fazia feliz. Compreende que não há culpados? Só há de fato a vontade louca de sumir e de deixar o tempo passar e apagar esse sombrio momento. Não quero estar ouvindo esses meus pensamentos que julgam e atormentam. Não quero estar ouvindo a consciencia dizer que estava previsto. Não quero passar por isso, não agora, e talvez nunca. Quero sentar e chorar e chorar e chorar e chorando expulsar todo o ser pensante de dentro de mim. Estou desesperada e não há nada que possa me salvar de mim mesma.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Carpe diem

O vento brinca de bagunçar a sua trança, enquanto ela anda apressada em direção a um compromisso qualquer. Preciso parar com o refrigerante, ela pensa, assim que vê uma moça magrinha passando no outro lado da rua. Se volta pros seus pensamentos, tentando lembrar do sonho estranho que teve, algo no shopping, ela estava almoçando, e de repente encontrou... droga, ela tropeça no mesmo buraco de sempre, se eles não arrumarem isso aqui eu ainda quebro meu pé, e sorri, como se se sentisse tola por falar sozinha. Mais alguns passos, e se perde novamente, desta vez lembra com quem sonhou, pensa naquela rosa amarela, e tenta entender o que ela significa. O sinal se abre e vários carros passam furiosos pela avenida, ela não percebe, mas o moço do carro preto passa pela segunda vez por ali, só pra vê-la sorrir sozinha novamente. Ela se assusta, já deve estar atrasada, pega o celular e vê que ainda tem três minutos. Se distrai com uma vitrine, bonita pulseira, cento e quarenta reais,  uma semana de trabalho pra conseguir comprá-la, deixa pra lá. Percebe que ainda segura o celular, mas prefere não pensar que tipo de esperança tem. Para na frente de um carro qualquer pra arrumar o cabelo bagunçado pelo vento, sorri exausta e deseja poder desaparecer, olha pros lados e percebe que, de fato, está sozinha, guarda o celular na bolsa sabendo que ele não toca há dias. Procura um lugar pra sentar e encontra um banco confortável, fecha os olhos e fica ali, remoendo a dor recém descoberta, está sozinha. Tento acenar pra que ela saiba que eu sempre estive ali, mas não há resposta. Vejo uma lágrima se formando e sussurro, não menina não lamente, a vida tem dessas coisas. Por sorte, o semáforo abre outra vez e outros carros passam apressados. Ela se distrai, pensa naqueles que a fariam se sentir melhor num dia como aquele, mas eles ficaram tão distantes. Carpe diem, ela vê adesivado numa moto, e tenta lembrar o que essa expressão significa, viver bem, aproveitar a vida, era algo assim; aproveite o momento, eu tento dizer, e ao mesmo tempo ela lembra que era isso que estava escrito junto a rosa amarela, no sonho daquela noite. Volta a si e lembra porque nunca foi pontual, as outras pessoas sempre se atrasam. Lembra também que as pessoas sempre se esquecem, que elas nem sempre se importam e que no caso dela, as pessoas simplesmente desaparecem.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quando chove.

Ouço um som constante, dessa chuva que insiste em cair, me rendo as convenções e aceito uma xícara de chá, desses desbotados e sem gosto. As coisas não são mais como há anos atrás, o mundo está tão agressivo e desleal, e posso ver por um óculos que já não suporto ter que lavar. Vejo sorrisos, viagens, e descaso. Não são ações alarmantes confesso, elas são sutis, e se fazem entender quase que nas entrelinhas. São lembranças que vem por uma noite, e que então voltam a ser uma sombra quase que imperceptível. São propostas que surgem numa noite, quase que numa ofença a vida que já se vive. São quases que enchem, esgotam, e vão pouco a pouco roubando o brilho da vida vivida. E então vejo outros que fogem pra longe, e que podem fugir, que se escondem em meio a dunas de uma praia bonita, ou embaixo da neve de uma cidade americana. Vejo pessoas que se escondem num quarto qualquer de uma cidade qualquer, fingindo pro mundo e pra si mesmos que estão satisfeitos com a vida que têm. Aceito outra xícara de chá, como se quisesse me embrigar desse líquido quente. A chuva não para, nem lá, nem cá. A frustração, os sonhos, o cansaço, a esperança, nada disso para. E por sorte, num sinal de que nem tudo é desprezível, as pessoas que se foram, um dia hão de voltar.