quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Como uma carta

Já fazem muitos dias que eu não consigo escrever um texto. Tenho exatamente oito rascunhos, cheios de frases e emoções que não parecem bons o suficiente para serem texto sabe? E eu posso ver você me dizendo que essa minha mania de perfeição é que me deixa doida. Mas eu não estou doida. Você, mais do que ninguém, deveria saber disso.
Deveria saber que eu gosto de você, e que tenho motivos racionais pra isso. Você é inteligente, amável e é extremamente confortável ficar ao seu lado. Você nunca me força a andar de mãos dadas e eu não te forço a me mandar bom dia todas as manhãs.
E também não há necessidade de dizer que é amor, nem mesmo de dizer se é mesmo amor, e não me importam os títulos, as formalidades, você devia saber que não me importa. Não importa se você vai me dar flores, chocolates ou um abraço apertado, o que importa é você ter anotado na sua agenda uma data importante, e me olhado nos olhos e pedido para eu não te deixar esquecer. Eu entendo que você morre de medo de me desapontar, e de me ver ir embora. E eu valorizo seus esforços, já te disse uma vez, eu percebo, e reconheço, mas as vezes eu me rendo ao péssimo hábito de só verbalizar as coisas ruins, e guardar pra mim as boas. Sinto muito se isso te faz sentir desvalorizado.
Sinto muito também por não conseguir usar uma resenha de um filme ou livro, para deixar só subentendido os meus sentimentos. Não é assim que funciona. Eu escrevo o amor, a saudade, e muitas vezes aquela coisa de tristeza e dor, mas escrevo assim ó: como uma carta. Carta que tem destinatário definido, mesmo que muitos leiam e recebam pra si essas palavras,  e você bem sabe que muitos recebem. E eu posso te ver perguntando como é que você vai saber se o texto é pra você, ou pro outro, e pro outro, e pro outro... não há como saber. Vou pegar emprestado uma ideia que li hoje num texto muito bem escrito: o que há, de fato, da pessoa que escreve, e o que há de nós mesmo, os que leem, ali? 
E você pode estar lendo isso agora, e desejando dizer isso a alguém, ou você pode estar tentando adivinhar pra quem é que eu escrevi esse texto, só que há, de fato, muito mais de você nessas suas interpretações do que de mim. Você pode tentar, mas não se iluda, não é tão simples assim, ler os textos e através deles me ler. Não há como vir aqui, ou ler meus rascunhos, e entender se é ou não amor. Nem há como saber se sua terapeuta diria para você se afastar de mim. Não há como saber, especialmente quando nunca se tem coragem de perguntar.