Sinto saudade da minha sabedoria
instintiva de antigamente. De quando eu era capaz de me arriscar ou de
deixar pra lá qualquer coisa sem medo de me arrepender. Quando a certeza de que
tudo ficaria bem me invadia nas madrugadas frias, e tudo, tudo mesmo
parecia sobre controle. Hoje, olho pela janela e me vejo receosa. Não consigo
mais descer correndo por uma escada sem sentir medo de me machucar. Nem consigo mais esperar pelo acaso para te
encontrar na fila do almoço, ou do supermercado. Agora tenho como companhia a
necessidade de planejar tudo milimetricamente, com a ilusão de que isso evita
as decepções.
Sinto saudade da minha versão de
antigamente. De quando eu tinha certeza que sabia ficar sozinha, de quando diluir
os meus sentimentos confusos em prosa era suficiente pra lidar com eles. Hoje, preciso
te olhar nos olhos e dizer o que me sufoca. Isso mesmo: preciso me expor, no olho-no-olho, pra conseguir ter um pouco
de tranquilidade. Hoje tenho medo de me perder entre meus desejos e as coisas
que me gritam pra não fazer. Tenho medo de não ouvir um conselho e isso doer
mais do que a frustração de não ter feito o que eu pensava ser certo.
Desaprendi a arriscar, a confiar nos instintos e não ter medo nenhum de me
arrepender. Sinto-me uma versão menos segura de uma menininha que eu costumava
achar a mais insegura das criaturas.