sexta-feira, 22 de março de 2013

Desaprendi a arriscar


Sinto saudade da minha sabedoria instintiva de antigamente.  De quando eu era capaz de me arriscar ou de deixar pra lá qualquer coisa sem medo de me arrepender. Quando a certeza de que tudo ficaria bem me invadia nas madrugadas frias, e tudo,  tudo mesmo parecia sobre controle. Hoje, olho pela janela e me vejo receosa. Não consigo mais descer correndo por uma escada sem sentir medo de me machucar.  Nem consigo mais esperar pelo acaso para te encontrar na fila do almoço, ou do supermercado. Agora tenho como companhia a necessidade de planejar tudo milimetricamente, com a ilusão de que isso evita as decepções.
Sinto saudade da minha versão de antigamente. De quando eu tinha certeza que sabia ficar sozinha, de quando diluir os meus sentimentos confusos em prosa era suficiente pra lidar com eles. Hoje, preciso te olhar nos olhos e dizer o que me sufoca. Isso mesmo: preciso me expor, no olho-no-olho, pra conseguir ter um pouco de tranquilidade. Hoje tenho medo de me perder entre meus desejos e as coisas que me gritam pra não fazer. Tenho medo de não ouvir um conselho e isso doer mais do que a frustração de não ter feito o que eu pensava ser certo. Desaprendi a arriscar, a confiar nos instintos e não ter medo nenhum de me arrepender. Sinto-me uma versão menos segura de uma menininha que eu costumava achar a mais insegura das criaturas. 

terça-feira, 19 de março de 2013

Eram frutinhos roxos

Sentei num daqueles bancos gelados que ficam embaixo das árvores com frutinhos roxos. Estava precisando dar um tempo pros meus pensamentos, e ali era o único lugar meio sol-meio sombra que eu pude encontrar. 
Deixei meus pensamentos irem longe. Revi aqueles olhos castanhos me olhando firmemente, enquanto o vento frio passava cortante nas minhas costas, e tudo o que eu ouvia eram palavras indecifráveis e incoerentes. Não dava pra negar que eu estava completamente confusa e perdida. Em contrapartida, o sorriso, o sossego, a naturalidade eram simplesmente fascinantes, não parecia certo deixar pra lá. Fechei os olhos bem apertados e desejei não estar sendo invadida por sentimentos tão confusos. Como viver sem arriscar? Que tipo de histórias você tem pra contar em rodinhas de amigos quando não se tem coragem de correr riscos? Como ter coragem de correr riscos quando não se dá pra calcular os danos prováveis? Depois do que passei nos últimos tempos, como é que não aprendi que não dá pra saber, muito menos controlar, o que se passa no coração e na cabeça de outra pessoa?
Nesse tempo, o meio sol já tinha se tornado meio chuva. Não se via mais sinal dos dias mansos. Nem tampouco a urgência dos dias agitados. Havia apenas um compasso apertado, um coração latente. Eu ainda vou me machucar, não vou? A menininha que não aparecia há muito tempo para se meter nas minhas escolhas, sussurrou. E num ato de bravura, respondi firme: vai sim menina, vai sim.


segunda-feira, 11 de março de 2013

O não-ciúme de você

Eu queria escrever mais sobre você. Queria que meus sentimentos estivessem engasgados aqui na garganta e que eu não tivesse paz antes de te contar como dói e incomoda essas suas escolhas. Mas é sério, não dá. 
Simplesmente não dá porque ando tão ocupada tentando encontrar a minha própria felicidade que ver você indo atrás da sua não me incomoda. E por instinto você vai pensar que esse é meu jeito clichê de dizer que fiquei com ciumes. Mas se parar um pouquinho pra pensar, vai entender que comigo não existe jeitinho pra lidar com sentimentos fortes. 
Eu juro que queria ter ficado com o coração acelerado quando te vi do lado dela. Eu já perdi a cabeça uma vez, lembra? Mas dessa vez foi tão diferente. Dessa vez eu só fui capaz de me encher de orgulho ao te ver fazendo boas escolhas, por te ver assumindo riscos e por não te ver intimidado pela minha presença. Fico aliviada por não ser mais aquela menina mimada que não sabe se desapegar do passado, que fica prendendo algo que não a faz feliz só porque não consegue lidar com a sensação de ver o outro seguindo em frente. 
Mas eu te conheço a tempo suficiente pra saber reconhecer quando as coisas que te acontecem são boas de verdade, e isso ai meu querido, parece ser bom pra caramba. E talvez, pensando bem, você me conheça a tempo suficiente pra saber que sua felicidade sincera, gritante aos olhos, seria capaz de desarmar qualquer reação explosiva da minha parte.
Mas eu ainda queria escrever mais sobre você. Queria ter sido invadida por um turbilhão de sentimentos, e  queria que isso estivesse me distraindo agora. Pode ser que de repente, essa coisa de não ter um amor pra lamentar me incomode um pouco. Pode ser que eu tenha ficado tanto tempo apegada aos desamores do passado que essa coisa de não me doer por ninguém seja uma novidade assustadora. E por isso eu esteja aqui tentando escrever sobre você por cima dessas linhas que gritam coisas sobre mim que não sei se quero saber.