quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Carpe diem

O vento brinca de bagunçar a sua trança, enquanto ela anda apressada em direção a um compromisso qualquer. Preciso parar com o refrigerante, ela pensa, assim que vê uma moça magrinha passando no outro lado da rua. Se volta pros seus pensamentos, tentando lembrar do sonho estranho que teve, algo no shopping, ela estava almoçando, e de repente encontrou... droga, ela tropeça no mesmo buraco de sempre, se eles não arrumarem isso aqui eu ainda quebro meu pé, e sorri, como se se sentisse tola por falar sozinha. Mais alguns passos, e se perde novamente, desta vez lembra com quem sonhou, pensa naquela rosa amarela, e tenta entender o que ela significa. O sinal se abre e vários carros passam furiosos pela avenida, ela não percebe, mas o moço do carro preto passa pela segunda vez por ali, só pra vê-la sorrir sozinha novamente. Ela se assusta, já deve estar atrasada, pega o celular e vê que ainda tem três minutos. Se distrai com uma vitrine, bonita pulseira, cento e quarenta reais,  uma semana de trabalho pra conseguir comprá-la, deixa pra lá. Percebe que ainda segura o celular, mas prefere não pensar que tipo de esperança tem. Para na frente de um carro qualquer pra arrumar o cabelo bagunçado pelo vento, sorri exausta e deseja poder desaparecer, olha pros lados e percebe que, de fato, está sozinha, guarda o celular na bolsa sabendo que ele não toca há dias. Procura um lugar pra sentar e encontra um banco confortável, fecha os olhos e fica ali, remoendo a dor recém descoberta, está sozinha. Tento acenar pra que ela saiba que eu sempre estive ali, mas não há resposta. Vejo uma lágrima se formando e sussurro, não menina não lamente, a vida tem dessas coisas. Por sorte, o semáforo abre outra vez e outros carros passam apressados. Ela se distrai, pensa naqueles que a fariam se sentir melhor num dia como aquele, mas eles ficaram tão distantes. Carpe diem, ela vê adesivado numa moto, e tenta lembrar o que essa expressão significa, viver bem, aproveitar a vida, era algo assim; aproveite o momento, eu tento dizer, e ao mesmo tempo ela lembra que era isso que estava escrito junto a rosa amarela, no sonho daquela noite. Volta a si e lembra porque nunca foi pontual, as outras pessoas sempre se atrasam. Lembra também que as pessoas sempre se esquecem, que elas nem sempre se importam e que no caso dela, as pessoas simplesmente desaparecem.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quando chove.

Ouço um som constante, dessa chuva que insiste em cair, me rendo as convenções e aceito uma xícara de chá, desses desbotados e sem gosto. As coisas não são mais como há anos atrás, o mundo está tão agressivo e desleal, e posso ver por um óculos que já não suporto ter que lavar. Vejo sorrisos, viagens, e descaso. Não são ações alarmantes confesso, elas são sutis, e se fazem entender quase que nas entrelinhas. São lembranças que vem por uma noite, e que então voltam a ser uma sombra quase que imperceptível. São propostas que surgem numa noite, quase que numa ofença a vida que já se vive. São quases que enchem, esgotam, e vão pouco a pouco roubando o brilho da vida vivida. E então vejo outros que fogem pra longe, e que podem fugir, que se escondem em meio a dunas de uma praia bonita, ou embaixo da neve de uma cidade americana. Vejo pessoas que se escondem num quarto qualquer de uma cidade qualquer, fingindo pro mundo e pra si mesmos que estão satisfeitos com a vida que têm. Aceito outra xícara de chá, como se quisesse me embrigar desse líquido quente. A chuva não para, nem lá, nem cá. A frustração, os sonhos, o cansaço, a esperança, nada disso para. E por sorte, num sinal de que nem tudo é desprezível, as pessoas que se foram, um dia hão de voltar.